Repare-se que me perdi da escrita nos dias seguintes à explosão da paixão, que sucumbiu em mãos quentes e suadas sobre mim, no cubiculo de sempre, entre fumos e outros acessórios que despertam as mentes. E apercebi-me que escrever me deixa triste, ou a tristeza é que me faz escrever.
E então deixei-me levar, abandonando este destino, seguindo outros caminhos, aprendendo outras coisas senão escrever.
Mas agora, finda o ano, e cai-me de subito a consciência culpada de quem abandona algo que é seu, e o deixa a mercê dos agouros do mundo. Aquilo que se deixa para trás sem merecer, volta mais tarde para nos atribular o espirito e quando acordamos dos sonhos lindos de amores e loucuras, levamos um valente estalo de culpa e vergonha por aquilo que deixamos, e era nosso.
Apaixonei-me, enamorei-me, perdi-me por tantos acontecimentos novos que me desleixei completamente. Não devia ter parado de escrever, Nunca! Porque, ao contrario do que pensava o escrever lava-me a alma e leva-me a tristeza, cravando-a em folhas únicas e que se escondem em gavetas fundas. E para mim a escrita sempre foi uma forma de arte triste e melancólica, sem modos de gargalhadas e finais alegres.
Querendo ou não sou um poeta e então sou triste, escrevendo. Querendo ou não tornei-me um apaixonado e então sonho, sorrindo. Agora vou tomando consciencia, vou vendo o que posso remediar e quem sabe, os conseguir juntar numa arte simples e pura em que os sentimentos bamboleiam como a vida. Puros, Simples, Sentidos.